... atrás dos Pirilampos ...
Acabo de chegar da aldeia.
Ao som da música dos grilos e das cigarras, deixei- me transportar velozmente para o passado... De quando corria, com os meus quatro primos (duas raparigas e, dois rapazes, todos mais novos), durante as noites de verão, atrás dos Pirilampos... Esses seres como que mágicos...
Na aldeia, vivia-se devagar. Saboreava-se cada dia, cada noite. Tudo acontecia de modo tranquilo.
Corríamos de cabelos ao vento, sem preocupações e, felizes...
Os donos do casal tinham morrido e, os actuais donos, viviam a milhares de quilómetros de distância.
A casa abandonada, os tanques, as muitas flores e árvores... Tudo se encontrava por nossa conta...
E aquela figueira idosa em que nos baloiçávamos?
E, quando nos deitávamos sobre aquele manto de flores silvestres, a observar o céu estrelado? Ainda consigo sentir aquela aroma, simultâneamente fresco e algo adocicado!
A aventura parava antes das dez da noite, porque sim.
Nenhum de nós gostava dessa parte mas tratava-se de uma regra a cumprir. No outro dia lá estaríamos...
E, o quarto dos avós era mais do que mágico: atravessava-se um jardim murado mas de onde se observava- no seu todo- o céu e, se entrava na casa principal. O meu quarto, á semelhança dos restantes, tinha o soalho e, o tecto, em madeira e, uma janela. Ainda sinto o aroma fresco e inebriante daquela planta, a que chamávamos "sempre noiva" que existia no jardim...
Perto do quarto havia uma sala onde a mesa de abas e as, respectivas cadeiras antigas, impunham respeito...
E o forno de cozer o pão que tínhamos, numa parte do jardim? Huumm...
E o celeiro onde, tal como o nome indica, se guardavam cereais...
E quando partíamos à aventura, em busca dos ovos que as galinhas punham fora do galinheiro?
E quando existiam pintainhos e outros animais bebés, como cordeirinhos?
E quando o riacho- que cortava a horta ao meio- tinha água transparente, pedrinhas, e muitos peixinhos?
E quando, nos meus pés muito pequenos, levava sapatos novos de verniz, a contornar a água transparente que corria nas beiras da estrada, para alcançar a casa dos avós, para passar o Natal (e outras quadras do ano) com tios, primos...
E, quando o avô que tinha estado numa das grandes guerras, nos sentava nos joelhos e, nos contava as histórias que só ele sabia contar?
E, quando a avó rezava connosco?
E, quando apanhávamos a fruta(maçãs, pêras, laranjas, diospiros), das árvores.... E quando apanhávamos as verduras da horta ...
E quando ...tudo era tranquilo, simples e, daquela maneira?!!